sexta-feira, 15 de maio de 2009

FALO DURO PRA ANA FICAR TRANQUILA

[Escrevi isso - "isso" porque na verdade não sei do que se trata (conto, crônica ou qualquer outra coisa que não o valha) - por volta de 2001. Na época fazia parte de um grupo - oh, um grupo! - que se dizia literário. Eu, Cláudio Marconcine, Sérgio Barroso, Carlos Leen e Sebastião Alves. Nos encontrávamos uma vez por semana, no apê do Cláudio, pra discutir e produzir literatura. Como se chamava mesmo o nosso grupo - Vivos? Clã Destino? Na Verdade não duramos um mês - Mortos.]




I

Ana detestava mijar de cócoras. Achava isso humilhante. Era como ter que ajoelhar-se perante alguma divindade para, só depois de seu consentimento, receber a permissão para urinar. “Ajoelhar e receber a graça”, pensava, ao sentar nas bordas melequentas d’algum sanitário. Grande merda! Nem nessa horas a mulher deixava de ser submissa. Por isso desejava, em vez de uma xoxota, possuir uma pica.

Não queria largar de ser mulher, que fique claro. Queria apenas, no momento de urinar, ter um cacete. Não precisaria agachar-se, gastar papel higiênico, enfrentar as imundas privadas dos idem banheiros ou, nas ausência destes, esconder-se atrás de postes, árvores, automóveis. Não, nada disso. Apenas levantaria a saia e afastaria um pouco a calcinha. Chóóó e pronto – guardaria o cacete novamente. Não era simples?

Nada de ficar um tempão agachada, esperando o mijo que às vezes nem vinha. Em pé, a bexiga certamente teria mais liberdade, a urina viria mais rápido. Sem falar nas inúmeras coisas que poderia fazer com um cacete. Repetindo: não que ela quisesse deixar de ser mulher. Agradava-lhe ser feminina, pintar-se, fazer chapinha, trepar com homens e isso e aquilo outro. Mas quantas estripulias – pensava – não poderia fazer com um treco daqueles entre as pernas?!

Fora sempre seu sonho sacolejar o bicho, brincar de quem mija mais longe, lavá-lo, ajeitá-lo dentro da cueca. Já fizera isso com o de seu namorado, Flávio, mas não era a mesma coisa. Não era como se fosse seu, a extensão real de seu corpo. Por isso morria de inveja ao ver Flávio urinando. Sempre que este ia ao banheiro, corria atrás. Quando Flávio não a deixava entrar, ficava espiando pelo buraco da fechadura, amargamente imaginando que jamais poderia sacolejar a vagina com tanta desenvoltura.

Se pudesse ser ele, sendo ela, a primeira coisa que faria era mijar do alto de uma ponte. Levantaria a saia e pronto. Tudo muito simples. Depois, segurando o pau com as duas mãos, escreveria emocionada o nome de sua paixão no asfalto: F-l-á-v-i-o. E se ainda houvesse urina o suficiente, também desenharia alguns corações, e flechas traspassando-os. Prova de amor maior, não fosse a impossibilidade de possuir um pênis.


II

Flávio estava desnudo na cama. Ao seu lado, Ana despia-se, iluminada apenas por uma luz insuficiente que precipitava-se pela porta entreaberta. Já nua, subia lentamente na cama, rastejando qual uma cobra. Sabia que ele excitava-se ainda mais ao vê-la imitando uma cobra. Ajoelhada sobre suas pernas, os braços cruzados para trás, Ana sorriu. Um incêndio silencioso espalhava-se por todo o seu corpo. Em sua mão, estrategicamente posicionada, a navalha luzia e reluzia.

“Te amo, Flávio”, ela disse e - zap! - desferiu o golpe certeiro em seu falo.

3 comentários:

Isnande Barros disse...

Você é um camarada talentoso.
Escreva sempre.
Abraço.

Carlos Leen Santiago disse...

uma pena realmente nao termos publicado tudo que oi produzido...
ou nao

Marconcine disse...

a isso dá-se o nome de per-ver-são!