sábado, 28 de dezembro de 2013

RODÍZIO

Ela está alegre, falante e, a julgar pelo tanto de arroz e feijão que põe no prato, também muito faminta.

Ela come sofregamente, o barulho metálico de seus talheres é algo elétrico.

"Mas que fome doida", ele pensa com um sorriso no canto da boca, e olha admirado a nova namorada mastigar, enquanto espera paciente o início do rodízio.


Ele não sabe, mas o cara que corta as carnes na churrascaria, o cara triste que nesse momento traz um coração sangrando no espeto, esse cara é o ex.

COBAIAS DA MINHA SOLIDÃO

Tirar onda calado. Da janela do ônibus, dar tchal pra desconhecida que varre a varanda da casinha no povoado Pindaré. Imitar disfarçadamente a mulher que bebe suco de cajá ao meu lado no balcão da padaria. Rir - depois do acontecido, já manobrando a moto na porta de casa - da vendedora do Mercadinho que perguntou se o rosto do Angus Young estampado na minha camisa era uma cabeça de jumento. Desnortear sobrinho chamando-o de tio.