quinta-feira, 28 de abril de 2011

DE FILME EM FILME

Fast Film (2003), curta de animação do austríaco Virgil Widrich.

terça-feira, 26 de abril de 2011

FIGURAS DO MEU ÁLBUM (IV)

GERALDO ( VULGO "G.G. GONZAGA", "LEREU", "GENERALDO")

Duas moscas gordas esperneavam dentro do copo de cerveja. Minha mãe falou: "Seu Geraldo, caiu umas mosca aí no seu copo". Geraldo elevou o copo na altura da cara. Olho-o com uma típica desaprovação de beiço. "Essas inseta vão beber agora é dentro do meu bucho" - e virou o copo na frente de três gerações da minha família. A cena acima se passou na varanda da minha casa, após um bucólico almoço preparado por minha mãe. Era um sábado e ela acabava de conhecer o Geraldo. Eu sabia que isso poderia acontecer. Conheço os modos desse velho há muito tempo. Não foi a primeira nem a última presepada. Consta no seu currículo até a apologia ao incesto durante outro almoço no seio de outra família. Não tem jeito. Ele fala o que pensa. Na lata, sem concessões. E também faz o quer com sua vida breguessa. Tanto que se mandou de Manaus e veio morar em Imperatriz. É o mestre dos apelidos – foi ele quem me apelidou de "Luís Mulher" – e o doutor da mentira paulatinamente transformada em verdade – espalhou tanto o boato de que o Carlinhos namorava o Iuri que muita gente acreditou. Nem os filhinhos do segundo casamento escaparam: Maria Fernanda ganhou a alcunha de "Má Fé" e Jorge transformou-se em "Coco" (como se vê o Geraldo não vale um relógio usado das bancas do Troca-Troca). Também é um exímio comprador de velharias. Moto velha, carro velho, bicicleta velha, tudo que funciona precariamente lhe interessa. Há quem diga que ele teve um affair com o João Ricardo, um estudante de administração de São Luís que passou pelo CESI/UEMA. Ele não afirma nem nega. Apenas sorri e diz que já vai para o oitavo cu.Toca violão e dá pitaco em som como só ele mesmo. Qualquer equalização que não seja a sua é irregular. "Ei, tá muito estridente", ele grita da mesa do bar e depois se levanta pra "arrumar" o som da caixa amplificadora. O Geraldo é um humilhador caridoso. Lembro que quando a gente era um bando de desempregado, geralmente ele pagava as contas dos bares sozinho. Antes, porém, ele pedia contribuição dos presentes. Como pouca gente contribuía, ele sacava algumas notas do bolso e as espalhava sobre a mesa. Depois olhava pra gente e dizia: "Quem tem bota, quem não tem tira". Caso alguém persistisse em não contribuir com a vaquinha, ele interpelava: "Então tira!". Aí, quando o liso tirava alguma nota de cima da mesa (e era obrigado a tirar), ele dizia: "Agora bota!". O Geraldo também é um entrosado. Gosta de andar com gente jovem. Uma vez o vi descendo a ladeira Beira Rio rodeado de pivetes, com uns braceletes de metaleiro nos braços, indo para um show na antiga Usina. Em outro show de rock – este de rock evangélico, diga-se – ele começou a pregar a favor do diabo no meio da massa de fiéis. Na praça da cultura ele tomou o microfone das mãos de um vocalista de uma banda punk e falou que, depois do show, todo mundo estava convocado pra ir com ele pras Quatro Bocas de Fumo. Quer ser pra sempre um rapazola, esse Geraldo. Afinal ainda lembro que durante uma mostra de poesia regada a álcool e música na UEMA, após ler alguns poemas que estavam pendurados no mural em frente ao DCE , o Geraldo olhou pra mim e falou sério, com seu chiado amazônico: “Luís, aconteça o que acontecer na vida, eu só não quero perder a jovialidade”. Não perderá, meu velho. Não perderá.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

CINECITTÀ

Film-Film-Film! (1968), curta de animação do russo Fedor Khitruk.



terça-feira, 19 de abril de 2011

FIGURAS DO MEU ÁLBUM (III)

JOSÉLIO (VULGO "JOHN JOE")

E aí? O sistema tá online ou offline? O Josélio é o cara que adora mudar desnecessariamente uma cadeira de lugar, ligar e desligar as luzes – só pra ter o prazer de apertar o interruptor - e passar a flanela na mesa que acabou de ser limpa. É o seu jeito altamente conectado ao mundo moderno. E ele fala inglês como nenhum inglês - Wain Instains! - , além de consertar telhado, pia, pintar parede e fazer gambiarra nas fiações da Cemar. Pau pra toda obra. Mas foi como garçom do bar do Claudeci que ele mais gostou de atuar, principalmente porque às vezes ele bebia mais do que os clientes. Tinha noite que ele montava na bicicleta e ia dar uma volta pela praça União, deixando o bar sob o comando dos bêbados. Mas logo em seguida ele voltava e antes de  descer da bicicleta dizia: “Vagabuuuuuuuuuuuuuundos”. Nessa época o Josélio não dormia, era vinte quatro horas ligado. Chegava em casa às cinco da manhã e saia às seis. Vivia tanto tempo no bar que algumas vezes as pessoas indagavam: “Mas o Josélio é casado com quem mesmo? Com uma mulher ou com o Claudeci?” Realmente era muito amor entre os dois. Tanto que às vezes eles brigavam e o John Joe sumia por uns dias. Mas depois retornava assoviando e sorrindo como se nada tivesse acontecido. E ia logo nas mesas perguntar em castelhando: “Tá farltando arlguna cosa aí, hombre?” Hoje o Josélio está "trabalhando sério" num "estabelecimento comercial sério" lá pras bandas da Bernardo Sayão. Ah, mas como eu gostaria, agora, de beber uma cervejinha bem gelada servida por esse maluco.

domingo, 17 de abril de 2011

FIGURAS DO MEU ÁLBUM (II)

ALAIN DELON (VULGO "ALAIN DELOX", "ALÁ", "ALADIM")

Já vai pra uma década que conheço o Alain. Acho que o vi a primeira vez no TNT. Na época ele era magro (anda um pouco gordinho), solteiro (já casou uma vez), filho (hoje é pai), desempregado (bancário, quem diria, virou bancário) e gostava de bebericar uma cerveja (hoje bebe de tudo, até perfume). Rolou de cara entre a gente um contato imediato do terceiro grau. Nos encontrávamos no TNT e perambulávamos mulambeiramente pela beira rio com uma granadinha na mão. "Sapopara, o sapo para mesmo", foi o slogan que ele deu à cachaça. Depois passamos a nos ver nas sextas culturais da UEMA. Sob o pretexto das "manifestações regionais", bebíamos até amanhecer no pátio da universidade. Teve uma vez que nós (eu, ele e outros estudantes) recepcionamos bêbados os alunos do curso sequencial de administração, sábado cedinho. Eles ligaram irritados pra Brunildes (diretora do campi na época) que apareceu baixando o som da caixa amplificadora e chamando o Alain de “Aladim, meu filho”. Criado pela avó como eu, é um dos caras que mais conhece MPB. E quando falo MPB não tô falando apenas de Chico e Caetano, mas de Jard’s Macalé e Sérgio Sampaio, só pra início de conversa. Ele me nocauteou uma vez (merecidamente), e isso serviu pelo menos pra mostrar o quanto a gente gosta um do outro. Temos em comum a ocorrência esporádica do Fenômeno da Chuva Durante a Noite Inteira quando estamos bebendo. Foi assim uma vez no Mustang. Choveu a noite inteira. Tanto que alagou o bar até o teto e o Bob Esponja apareceu nadando e pagou umas cervejas pra gente. Na manhã seguinte, quando a água baixou, tinha um surubim em cima da nossa mesa. Sério. O Renan está de prova e não nos deixa mentir. Enfim o Alain é meu brother demais, demais, demais. Como diria a Márcia Goldschmidt: "Mexeu com ele, mexeu comigo".

sábado, 16 de abril de 2011

FIGURAS DO MEU ÁLBUM (I)

CLAUDECI ( VULGO "CLAUDETE", "CLAUS")

Estou publicando no Facebook um álbum de fotografias com o título deste post e o subtítulo Minhas singelas impressões sobre uma pá de gente que gosto. Já publiquei três figuras por lá. Aos poucos as republicarei por aqui.

Conheci o Claudeci quando ele ainda era garçom do Bar do Maciel. Ele apareceu bêbado (na época andava bêbado) e fumando (na época fumava) no Bar do Paulista. Disse que estava doido para ligar pruma menina que tinha dado mole pra ele, mas não tinha crédito no celular. Dias depois fui atendido por ele no Bar do Maciel, que dias depois passou a chamar-se Bar do Claudeci. (Corre até hoje o boato de que o Maciel foi vítima de um “tombo”.) E que bar. Logo de prima o Claudeci mandou pintar na parede a frase “não bata na cinuca” e  passou a oferecer uma picanha na chapa com mais cebola do que carne, sempre acompanhada de uma “muchêa” de farinha de puba fedorenta. Falando em comida, o Claudeci come diretamente na panela, assim como os porcos comem diretamente no pneu. O time do coração é o Vasco, o apelido é Claudete. É uma ótima pessoa o Claudeci, até porque só fala mal dos outros pelas costas. O tempo passou e o bar mudou de endereço. E também de dono: não é mais Bar do Claudeci, agora é Bar da Poly. (Corre até hoje o boato de que o Claudeci foi vítima de um “tombo”.) Entre verdades e mentiras, é certo que o Claudeci largou a esposa para viver um grande amor, mas o mais certo ainda é que hoje ele trabalha como motorista de ônibus na linha Imperatriz/Ribeirãozinho.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

I HATE TV

Sou da geração pré-donwload, a geração fita Basf. E lógico: da Geração TV. Lembro que no Pasquim 21 havia uma coluna chamada Eu Odeio TV. Eu sempre a lia. A coluna era especializada em TV. Numa época em que as televisões já eram coloridas, a Semp lá de casa continuava preto e banco. Quando morávamos em Campestre, no início dos 90, alguns citadinos burlavam essa imposição socio-econômica acoplando uma tela de vidro com as cores do arco-íris sobre os velhos aparelhos. Era a engenhosa forma para colorir a programação. E os crediários a vendiam em até dez vezes com juros.

Nunca arrotei a célebre frase anônima Eu não assisto TV. Eu sempre assisti TV, aliás desde a tenra infância, quando, extasiado pela primeira vez em que a vi, eu só de cueca bebi metade de um litro de querosene que minha mãe deixara vacilando no pé da estante. Se estivesse vivo, ainda hoje meu pai diria que a culpa foi da TV, essa alienadora de mentes. Não, a culpa foi minha. E como estava gostoso aquele querosene. Fez-me ver a nave da Xuxa com outros olhos, outros sentidos, outras portas da percepção - embora depois eu tenha acordado num hospital em Teresina, Piauí, internado para desintoxicação.

Sou um órfão da Rede Manchete. Bati muita punhêta assistindo aos bailes de carnaval do Clube Escala, no Rio, madrugada adentro, com a TV ligada baixinho para não acordar meus pais. Devo a vida à televisão, ela que uma vez me livrou da morte. No dia em que o Homem Lombriga seria enterrado vivo no espetáculo do circo vizinho à nossa casa (o Circo do México, um circo fuleiro que não era do México), eu fiquei na dúvida se iria assistir ao fantástico enterro ou se ficava em casa assistindo a um dos episódios do Star Wars na Globo. Optei, no fim, pelo filme. No dia seguinte fiquei sabendo que uma arquibancada do circo havia caído e matado um menino da minha idade.

A televisão da casa de minha avó sofria. Durante as férias, era a oportunidade que eu tinha para assistir à novela Carrossel em cores. Deitava no sofá e aproveitava que minha avó estava na cozinha e ficava mudando de canal com o dedão do pé (também sou da geração pré-controle remoto). A de casa também esquentava: minha mãe tinha que me ameaçar - Menino, vou comprar uma caixa de geladinho pra tu vender na rua! -, caso contrário eu não abandonava a telinha para estudar a Tabuada e o Abc. Um dia levei umas bordoadas do meu pai quando ele me mandou pegar cigarro para ele na gaveta da máquina de costura e eu fiquei absorto assistindo ao Fofão. A TV foi minha primeira droga. E pode ser a última. Ou não é factível que um dia exista TV de LSD?