Às
vezes é como excluir um blog. Definitivamente.
Ou não querer saber os segredos que a família guarda nas gavetas
do
guarda-roupa do parente que se foi. É mais uma questão de momento. Que
os
últimos créditos do celular fecundam os piores SMS. E o derradeiro gole
da
cerveja em lata, aquele gole morno, às vezes é preciso tomar sem
fazer
careta. Puxar o band-aid com força, com raiva, para que a ferida reste
exposta diante dos olhos de todos. Latejando minúsculas nascentes de
sangue. Às vezes é
preciso descer um balde ao fundo do poço e puxá-lo torcendo para que
suba só a
corda. Para que a sede, finalmente, morra de sede. Verbalizar sem emoção
alguma
a palavra rude que traz consigo a contundência capaz de quebrar um
nariz.
Aquele ato meticulosamente pensado porque não pode ser repensado. Às
vezes tão
irrevogável quanto o pai de família que chega em casa e mete um cano na
boca e
aperta o gatilho.
sábado, 24 de novembro de 2012
terça-feira, 20 de novembro de 2012
GUERRA AO ZUMBIRISMO
Impressionante como a série de TV ‘The Walking
Dead’ deixa claro o apego do americano yankee por armas de fogo. É quase uma
apologia. Por um motivo que não se explica (estou no início da segunda
temporada) as forças de segurança (exército, marinha, FBI, etc.) não existem
mais, ou pelo menos não são mostradas em ação, numa época em que o país está
infestado por zumbis assassinos. É a desculpa ideal para próprio americano
defender-se. A entrada triunfante da arma de fogo de uso civil. O marine
recolhe seu M16 e sai de cena para o destemido texano com um 38 na cintura. ‘Às
armas, cidadãos’, ainda que o convite seja desnecessário – o povo americano é o
mais armado do mundo. Atualmente, até rifles róseos são vendidos para meninas,
e na série, em determinado momento, é consenso entre os personagens que um
garotinho deve aprender a manejar uma pistola.
Na segundo ou terceiro episódio da segunda temporada, é sintomático o treinamento de tiro que um dos protagonistas, o policial Shanne, ministra para uma sobrevivente numa floresta: enquanto um pequeno tronco de madeira balança pendurado numa corda fixada numa árvore, como se fosse um zumbi se movimentando de um lado para outro, ele a provoca com palavras típicas de um treinamento militar: se ela quer aprender a atirar – e a matar –, é preciso se desligar, esquecer a culpa, o medo, a irritação, tudo. Do contrário, como ele próprio vaticina, continuará atirando ‘como uma garota’.
A apologia funciona muito bem porque os inimigos são mortos-vivos impiedosos. É politicamente correto atirar num zumbi, ‘matar um morto’. Mas em sonhos, o telespectador branquelo – principalmente o que traz uma SS tatuada no braço –, se cercado por dois ‘walkers’, certamente não hesitaria em descarregar a sua Colt .40 no crioulão que traja uma camisa fedida e rasgada do Troy Davis. E é claro que a eleitora do Obama, no caso de um apocalipse zumbi, desejaria que a sua vizinha republicana fosse infectada o quanto antes. Porque, excitada, ela já treina disparos imaginários no quintal de casa. Utilizando uma espingarda calibre 12 e tendo como alvo um cartaz do Mitt Romney.
(P.S.: Curiosamente, o protagonista da série é um
xerife que andou à beira da morte após ser baleado logo no primeiro episódio.)
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