sexta-feira, 30 de outubro de 2009

LÁ ONDE O VENTO FAZ A CURVA

Au Bout du Monde (1998), curta de animação do francês Konstantin Bronzit.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

SALIMP - UM SONHO

A notícia da mudança da data do Salão do Livro de Imperatriz me quebrou as pernas. Com a antecipação do evento (de 25 para 17 de outubro), pegarei no máximo os dois primeiros dias, sábado e domingo, porque na segunda já estarei longe daqui, dali, dacolá, trabalhando. Fiquei tão abalado com tal notícia que sonhei, noite passada, com o dito evento literário. Sonho maneiro, louco, ótimo. Quando acordei, fiz questão de passar um pincelzinho verde-cana nas partes que ainda estavam borbulhando na minha memória. Alguns pontos são dignos de nota.


*No sonho, o Salimp não acontecia (como está previsto para acontecer) no Centro de Convenções. A bagaça parecia rolar na Ufma. Mas não, não era naquela Ufma que fica ao lado da Câmara dos Vereadores. Era outra essa mesma universidade: multicolorida, térrea e subtérrea, labiríntica, insular e de arquitera gaudiniana.


*Zeca Tocantins aparecia cantando dentro de uma canoa (ou antes berrando): "Canoooa! Canoooa!" Utilizando o próprio violão, ele remava, remava, remava mas a embarcação não saía de baixo de um cajueiro onde parecia estar ancorada.


*Um amigo que eu não via há muito tempo, e que um dia me disse que é mais fácil soar piegas quando se escreve poesia, por ironia do sonho aparecia no hall do Salimp com uma mostra de poemas. Ele estava preocupado diante dos "rebentos" ampliados e fixados nas paredes. Caneta em punho, percorria a mostra fazendo correções nos poemas: ora riscava determinados versos de uns, ora acrescentava palavras em outros. Segundo ele, os organizadores da mostra transcreveram vários de seus poemas de forma equivocada. "Talvez por isso", afirmou, "eles estejam soando tão piegas".

*Na porta do auditório em que o jornalista Caco Barcelos ministraria uma palestra, estudantes ansiosas disputavam um ingresso. Quando uma delas era contemplada com a entrada, lia para si mesma, entre incrédula e desejosa, a inscrição em itálico no verso do ingresso, abaixo da foto do repórter: "Ingresso pessoal e intransferível. Preencha corretamente os campos referentes a nome e CPF. Ao final da palestra, sessão de beijos de língua e talvez uma orgia com o autor de Abusado".


*Em outro auditório, outras estudantes disputavam com unhas e dentes - e peitos e bundas - o título de Blogueira Mais Gostosa de Imperatriz. Eleição difícil em que o meu voto foi decisivo.


*Num cantinho menos concorrido, Ricardo Ramos ouvia o cotidiano das pessoas e ao final escrevia um Circuito Fechado para cada uma delas.

*Totalmente vestido de preto, o poeta Nauro Machado declamava os oitocentos sonetos do livro Nau de Urano e Frederico Machado, seu filho, projetava um curta sobre o pai (Infernos) na falange do dedo mindinho dos espectadores.


*Na Arena Subtérrea, outro poeta, Ademir Assunção, munido de rock’n roll e poesia, apresentava a prosódia inusitada da sua Rebelião na Zona Fantasma.

*Escolhido na hora pelos imortais da AIL, o blogueiro Carlos Hermes era o responsável por escrever um conto cujo tema era "51 motivos para a caravana da cidade de Balsas permanecer no Salão do Livro de Imperatriz". Como sugere o tema, a caravana de Balsas estava partindo antes do término do evento. Munido de caneta e caixas de papelão, Carlos Hermes suou mas conseguiu tecer uma trama para garantir a permanência dos balsenses no Salimp. Meses depois, conta o sonho, ele foi agraciado com o título de cidadão balsense e a chave da cidade. Diz também o sonho que em seguida ele abandonou a família em Imperatriz e casou-se com uma gaúcha filha de um grande produtor de soja da região.

*No final do evento, a paisagem era algo entre uma cidade de filme de faroeste e restos de uma festa regada a álcool e gastronomia em excesso, como A Comilança do Marco Ferreri. Folhas ao sabor do vento. Sobras de comida e livros pelo chão. Balões de festa. Poemas escritos em notas de cem e dois reais. Um boneco despejando baldes de água fria na cara de um ventríloquo bêbado. Músicas lentas e tristes tocando num radinho de pilha abandonado num canto. Poetas mortos. Palestrantes mortos. Romancistas mortos. E eu andando no meio de tudo isso. Eu e mais ninguém. Até que, ao abrir determinada porta, me vi deitado em cima de um amontoado de livros usados. Cheguei mais perto de mim, sem medo. Pensei em acordar-me, dizer "vamos, você precisa trabalhar", mas desisti. Fui pro outro canto, acomodei-me sobre outra pilha de livros, e, antes de finalmente acordar, dormi mais um pouquinho.

CINEMA NO TEATRO

O projeto Cinema no Teatro passou um tempo sumido, parado, longe do Ferreira Gullar. Mas agora voltou, voltou para ficar, porque ali, ali é o seu lugar.

Lembro quando o projeto começou, lá pelos idos de mil novecentos e dois mil e dois. Lembro da trabalheira que deu pro Gilberto transportar a telona lá da casa dele até o teatro, empurrando a tralha dentro de um carrinho de mão. Lembro do Cláudio vestido de homem-sanduíche divulgando os filmes na Praça de Fátima. Lembro da Nice fantasiada de Rê Bordosa distribuindo folhetos com a programação do projeto nos semáforos do Centro. Lembro do Chico organizando a fila na portaria do teatro com uma latinha de Skol na mão. E do pipoqueiro vendendo suas pipocas alucinógenas multicoloridas para aqueles que chegavam pontualmente às 19h no Ferreira Gullar.

Pro retorno do Cinema no Teatro, dois filmes do documentarista Eduardo Coutinho.

Dias 19/10: Jogo de Cena - Documentário - Classificação Livre


Sinopse: Atendendo a um anúncio de jornal, 83 mulheres contaram sua história de vida em um estúdio. 23 delas foram selecionadas, em junho de 2006, sendo filmadas no Teatro Glauce Rocha. Em setembro do mesmo ano várias atrizes interpretaram, a seu modo, as histórias contadas por estas mulheres.





Dia 26/10: O Fim e o Princípio - Documentário - Classificação livre


Sinopse: Um filme nascido do zero. Sem pesquisa prévia, sem personagens, locações nem temas definidos, uma equipe de cinema chega ao sertão da Paraíba em busca de pessoas que tenham histórias pra contar. No município de São João do Rio do Peixe, o filme descobre o Sítio Araçás, uma comunidade rural onde vivem 86 famílias, a maioria ligada por laços de parentesco.


A entrada é franca. Todas as segundas, às 19h, no Teatro Ferreira Gullar.

domingo, 4 de outubro de 2009

LEMINSKI DENTRO DE 18 CAIXAS PLÁSTICAS AZUIS



rio do mistério

rio do mistério
que seria de mim
se me levassem a sério?

*

Creio que o Leminski foi um daqueles caras - poucos caras - que ousaram despentear o penteado sisudo da poesia. Um daqueles brothers que deram uma palmadinha sacana no respeitadíssimo bumbum da prosa. Meu primeiro contato com o cabra foi através de um livro de gramática do Ensino Médio. (Aliás, os livros de gramática só me interessavam porque dentro deles eu sempre encontrava tirinhas do Quino e trechos de contos e romances - além de poeminhas inteirios como esse aí de cima.) O segundo contato se deu nas estantes do Farol da Educação, atrás do colégio Nascimento de Moraes, ao encontrar, na pratreleira de Ciências Políticas, o volume dOs Melhores Poemas do Polaco Loco. Por último, na Uema. Estampado em umas das camisas que o Alexandre vendia no pátio daquele colejão, um minúsculo poema do Leminski sempre sorria pra mim, irônico: "não discuto com o destino, o que pintar eu assino".

Por esses dias rolaria a oportunidade de outro contato, se eu morasse em São Paulo. Dessa vez vez através da exposição Paulo Leminski: 20 anos em outras esferas, no Itaú Cultural, de 1 de outubro a 8 de novembro, com curadoria do poeta Ademir Assunção, amigo e admirador do autor de Catatau. Participam também Alice Ruiz (esposa e poeta), Áurea Lemisnki (filha) Mário Bortolotto (dramaturgo) e Marcelo Montenegro (poeta), sem falar nos outros artistas que diariamente celebrarão a obra leminskiana, seja através da leitura de seus livros, seja em conversas acerca do poeta kamikaze. Diversas instalações compõem o acervo da mostra, além de poemas inéditos e preciosos manuscritos guardados pela filha do poeta em 18 caixas plásticas azuis. Apareçam por lá, marcianos. Quem for não se arrependerá. Ou como diria o funcionário da Setran responsável por pregar as placas de sinalizaçao nas ruas (ao referir-se a um evento de qualidade): "Ê, mas vai ser bom..."

*

Algumas fotos da exposição no blogue do Ademir Assunção:
http://zonabranca.blog.uol.com.br/arch2009-09-27_2009-10-03.html

Matéria do Jotabê Medeiros (Estadão) sobre a mostra:
http://www.estadao.com.br/arteelazer/not_art440804,0.htm