Haverá um dia que não retornarei mais da rua. O telefone
tocará dentro do bolso da calça até a ligação cair na caixa postal. Um tiro? Os
pneus de um caminhão? Um curto-circuito no peito? Haverá um dia que não abrirei
mais, bêbado, a porta de casa. Adeus, constas a pagar. Adeus, vidinha medíocre
e a prazo. Haverá um dia que não sentirei mais aquela necessidade fremente de
meter uma bala no céu da boca. A morte é uma torneira que seca ou um cano que
estoura? Haverá um dia que não esquecerei mais de levar a tolha para o banheiro. Cru, dentro da frigideira, dentro fogão, apodrecerá um bife temperado
pela velha mãe.
terça-feira, 25 de junho de 2013
segunda-feira, 24 de junho de 2013
O INVENTOR DO TOBOGÃ
Às vezes eu fico pensando no inventor do tobogã. Na sua
vidinha de merda de acordar às seis da manhã para ir comprar pão na padaria. Ó,
que belo invento. Que adrenalina proporcionada. Só um homem muito medroso para
inventar uma engenhoca cuja maior função é proporcionar uma falsa sensação de
perigo. Em verdade, ele deve tê-lo inventado na tentativa de ignorar as
traições da esposa. Na tentativa de esquecer a própria existência, nem que
fosse durante os poucos segundos que o separavam do mergulho no lago morno e
salobro de azulejos azuis. Mas qual? Se a realidade, inexorável, sempre emerge
da água, junto com seu corpo flácido e sua falta de ar? Como conforto, só lhe
resta assuar o nariz e sair desajeitado da piscina. Medíocre, traído,
conformista, o inventor do tobogã deve ter morrido de tristeza.
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