sábado, 25 de julho de 2009

ALÉM DA TV OKAZAJO

Será tão enigmático quanto O Segredo do Labirinto?
Ou tão Gilberto Freire de Sant'Ana quanto Feliz Ano Novo?

sábado, 18 de julho de 2009

RECEITA

um bife temperado com amor e chumbinho pro cachorro do visinho



Na vontade desesperada de ganhar um abraço de alguém. Mas não indo atrás. Nem na frente. Saindo do meio.

Estrelando um filme que se passa inteiro - com choro, trilha sonora, final quase feliz - na porta giratória de um banco que está sendo assaltado.

Beijando através da parede de vidro do aeroporto Antônio Carlos Jobim uma menina de saia rosa e olhos de fogo.

Trapaceando na brincadeira do Cai no Poço ao avisar ao meu melhor amigo com um toquinho nas costas o exato momento em que aponto para a bela garota da casa de portão elétrico.

É essa? É. E é mais.

É chegar sem aviso prévio com um AR15 ou uma pistolinha de água numa barraquinha de tiro ao alvo.

Furar a bola colorida de um menino esnobe com um cigarro Derby.

Não saber agir naturalmente - braços de mais, pernas de menos - diante daquela criatura com voz de aeromoça e um eterno jeito de menina lambuzada de Batom Garoto.

Esmurrar a parede do quarto - calmo no princípio, desesperado no final - até quebrar a mão direita - a esquerda já quebrada - em três lugares.

Tentar acessar um blogue que não existe mais e que se chamava Carro Bomba na Terra do Nunca.

Desejar a língua da lésbica, os alucinógenos da madrugada.

Apertar o play.

E singrar a cidade em plena segunda dirigindo um Trenzinho da Alegria dos Horrores cheio de loucos barbudos magricelas e anões da Ilha da Fantasia fugitivos de Bangu I.

Porque já disseram por aí que ouvir certas músicas do Tom Waits é como fazer carinho num arame farpado.

sábado, 11 de julho de 2009

VI O CACHORRO DE PERTO

Porra, na sexta leio um post nada agradável no blog do professor Carlos Hermes - VI A MORTE DE PERTO, em que o cara narra ter sofrido um acidente de carro - e no sábado eu mesmo me envolvo num acidente de moto. O acidente do Carlos foi numa rodovia do Tocantis. O carro que ele dirigia capotou diversas vezes, deu perda total, mas felismente o professor sofreu apenas algumas escoriações. O meu acidente foi nas proximidades do Mercadinho. Eu me deslocava às duas da madrugada do Bar do Claudeci para a Rodoviária (ia comprar cigarro pra galera) quando um cachorro louco saiu latindo detrás de uma árvore e se jogou debaixo do pneu da moto. Caí feio, fiquei todo ralado e ainda fraturei o punho esquerdo (Cê não sabe como é trabalhoso - e doloroso - digitar isso aqui só com uma mão.) Então fica assim: se o Carlos afirmou ter visto a morte de perto, eu posso muito bem afirmar que vi um cachorro de perto, muito perto, tão de perto que não consegui desviar.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

BRINCANDO DE FURAR O MUNDO

Brincávamos um jogo chamado Boi. Primeiro no chão batido, antes do advento do asfalto, e depois de tal advento, no asfalto mesmo, que se mostrou muito melhor do que poderíamos imaginar. Uns tinham pião Potinho. Outros tinham Catatau. Todos se conheciam e se respeitavam. Meninos que viravam tensos adultos pra não perder o jogo. Sabedores do perigo do vacilo - ter o pião partido ao meio, o riso dos outros ecoando por infinitas semanas. E sem saber que um dia poderiam ler um belo texto sobre parte desse ritual. Um texto de alguém chamado Cristovão Tezza. Essa pequena obra-prima aí embaixo.
***

DA ARTE DE JOGAR PIÃO
Segura-se o pião com a mão esquerda, enquanto a direita enlaça-lhe o pescoço, sem dar nó, puxando a fieira verticalmente até a base da ponta de ferro, de onde voltará a subir em anéis apertados e unidos, feitos com carinho e atenção - da qualidade desta amarração dependerá o destino do lance, a sua parte técnica. É importante que o pião seja velho e o verniz esteja gasto pelo uso - na pele brilhante a fieira escorrega e o resultado é o desastre.

Chegando a fieira ao trecho bojudo, em torno da maior circunferência prende-se o último anel com o polegar enquanto a mão direita prepara o golpe, dando voltas na outra ponta como quem firma na palma um chicote improvisado, até que os dedos, livres mas tensos, segurem o pião, que é indócil, com delicadeza - o indicador na cabeça, o polegar na base. Concentrando-se, deve-se sustentar o pião com uma breve inclinação à direita (para compensar a puxada do chicote quando a peça cair no mundo), e erguer o braço lento e suave até a altura da orelha, não mais, que é exagero, nem menos, que é fraqueza. Fixa-se um ponto no chão e lança-se o pião um palmo além dele, como quem arremessa uma pedra para saltitar na água. (Se o jogador for canhoto, faça-se tudo ao espelho, que será o mesmo.)

O pião desenrola-se furioso no ar, mas isso não se verá; a puxada da fieira, percebe-se no tato, deve acontecer só no último segundo, quando quase desnecessária. Livre enfim, o pião procurará em desespero o seu ponto de equilíbrio, contra todas as provas da lógica, sob o olho de um furacão mesquinho que o quer ver no chão, mas ele não cai, absurdo. Se o chão for liso, como deve ser, o pião, apenas respirando, dormirá, absolutamente imóvel sobre a terra, um espetáculo de silêncio e uma aula impossível de geometria. Podemos sentir, sob o eixo estático, como a agulha de um aparelho metafísico, o tremor sutil da rotação do mundo.

domingo, 5 de julho de 2009

quarta-feira, 1 de julho de 2009

AH, CAVALGADA

ou bosta verde sobre superfície negra


Fim de férias. Acabou a minha vidinha boa – sapo caiu na lagoa – de beber em plena segunda, acordar ao meio-dia e ficar assistindo ao Difusora Repórter com a Luzia Sousa e o seu "eu e você no SBT". Acabou-se. This is the end, beautiful friend. Já recebi até telefonema da Guarda Mirim me informando que estou escalado pra trabalhar na "nãoseiquegézima" Cavalgada de Imperatriz. O grande evento anual dos ruralistas, abertura da Expoimp, momento em que mauricinhos e patricinhas alugam carroças no Mercadinho pra encher a cara de Heineken enquanto são puxados por jumentos velhos de guerra do centro da cidade até o Parque de Exposições. A nata imperatrizense no seu dia glamouroso de Cheira-Peido, posando pra câmeras de 200 mega-pixels em cima das carroças enfeitadas pra depois criar álbuns no Orkut e esperar os comentários virtuais dos amiguinhos da Itz, da Texana, do Gatinhos.

É uma dor de cabeça essa Cavalgada. Não só pra nós, da Guarda Mirim, que temos que chegar cedinho pra interditar as ruas, mas para a própria cidade, que literalmente "trava" durante o evento. Se no próximo sábado pela manhã um sujeito comprar um frango no Braseiro do Gaúcho e quiser retornar para a sua casa, no Bacuri, ele não conseguirá, porque será impossível cruzar a cidade - a avenida Getúlio Vargas - de um lado para o outro. A hora do almoço vai passar, o frango vai esfriar, e o máximo que ele vai conseguir é ficar parado num cruzamento. Depois o saco dele vai encher – com razão – e ele vai buzinar feito um louco e mandar o guarda que tá interditando a rua – eu, o filho da puta – tomar no cu. Mas o problema não somos nós, os guardinhas. O problema é essa Cavalgada de merda.

Há cinco anos eu sinto isso na pele. Por morar no Conj. Vitória, tenho que fazer o mesmo percurso da Cavalgada pra chegar em casa. Apesar disso, os sacanas da Guarda sempre me escalam nas proximidades do entroncamento, um dos últimos pontos de interdição. Como só posso ir embora quando o último cavalo passa cagando, então é batata: mesmo que eu fure sinais, avance preferenciais, corte por dentro do Bacuri, quando eu chego perto da ponte do Cacau a maldita Cavalgada já está por lá, atravancando o meu caminho. Como não sou passarinho, tenho que reduzir a moto pra primeira marcha e seguir atrás dos animais durante uns quarenta minutos, até que, na entrada do Parque de Exposições, finalmente a BR é desobstruída e eu consigo acelerar pro caminho de casa. Nesses cinco anos, só houve uma vez que alguém se apiedou de mim. Sabendo que eu ficaria preso atrás de bípedes e quadrúpedes, um amigo - o Renan - me convidou pra matar esse tempo na casa dele, e almoçar por lá também. Almocei, conversamos, bebi café, fumei um cigarrinho e depois fui pra casa só no ponto de dormir.

No caminho, perto da entrada do Parque, no acostamento da BR, entre bostas de jumento e latas de cervejas, vejo a cena que sempre me vem à mente nessa época de Cavalgada. À deriva no meio-feio, calçada com apenas umas de suas botas (perdera a outra?), tentando se levantar da sarjeta e principalmente do porre, vejo uma patricinha regurgitando debaixo do sol das três horas da tarde. Ao seu lado, algumas pessoas, não sei se rindo da situação ou tentando ajudá-la.

Só me lembro mesmo de uma coisa. A de que mandei todos tomarem no cu. Claramente. Com o mega-fone do meu pensamento.