sábado, 23 de maio de 2009

ENCHENTE, CACHAÇA E PESCARIA

Recebi do Alain Dellon (o bancário, não o ator) um emeio contendo um vídeo sobre as enchentes no nosso estado. O vídeo foi produzido por Fernando Donasci, repórter fotográfico da Folha de São Paulo que esteve em Bacabal, uma das cidades mais atingidas. A foto que antecede o post também é de autoria do mesmo repórter. O vídeo é credor do texto.


Durante as enchentes no Maranhão, o modus operandi de alguns barqueiros de Bacabal me lembraram Caronte, o barqueiro mitológico responsável por transportar as almas do gregos mortos para o outro lado do - também mitológico - rio Aqueronte. Com uma diferença bem real, pra não dizer mortal: enquanto Caronte, sóbrio, se ocupava do transporte dos mortos, os barqueiros de Bacabal, bêbados, se ocupavam do transporte dos vivos. Explico melhor. Depois de passar algumas horas à deriva em suas embarcações bebendo pinga, à altura dos telhados das casas alagadas, os estranhos barqueiros de Bacabal eram acometidos de grande espírito solidário e iam "socorrer" os irmãos desabrigados, entre eles muitas crianças, idosos e mulheres grávidas. Ajudaram a salvar muitas vidas, é verdade, mas também contribuíram para algumas mortes.

Um dos motivos das pessoas relutarem em abandonar suas casas eram os saques. É que outros barqueiros, menos solidários e mais espertos, aproveitavam a ausência forçada dos moradores para saquear as residências. Panelas, botijões de gás, prateleiras, fogões, portas, mão de pilão - nada escapava ao apetite dos saqueadores. Também foram vítimas da ação dos piratas ribeirinhos alguns clubes, escolas, comércios e até igrejas - uma santa foi roubada do altar de uma paróquia alagada. Somente com a presença mais efetiva do Exército, da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros é que os saques diminuíram. Um caso curioso é o de um saqueador que, na manhã seguinte à ação meliante, descobriu ter saqueado a própria casa. Devia ser um dos barqueiros bêbados.

Um outro fato curioso diz respeito aos homens que passavam o dia nos telhados das casas alagadas. Estes também bebiam pinga, a exemplo dos barqueiros, mas não se aventuravam no transporte dos desabrigados, deixando tal empresa a cargo dos bombeiros. Também não saqueavam casas, nem comércios e tampouco roubavam imagens das igrejas. O passatempo deles resumia-se, além da manguaça, a pescar e falar mal da vida alheia. E os pequenos peixes que pescavam tinham destino certo. Não iam pra panela, não viravam refeição para os desabrigados - o destino dos pequenos carás era a pança dos gatinhos que se encontravam ilhados em cima das casas. Se não fosse a boa ação desses pescadores bebuns, muitos bichanos teriam morrido de fome.

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13 pessoas já morreram em função das enchentes no Maranhão. O Estado de São Paulo mandou militares do Corpo de Bombeiros especialistas em resgate de alto risco. O Estado de Santa Catarina mandou técnicos para assessorar o governo do Maranhão na captação de recursos federais.

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Pra quem puder ajudar, esses são os dados bancários da Defesa Civil do Estado:Caixa Econômica Federal, agência 0027, conta corrente 1000-2, operação 006.

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Pra ver o vídeo do repórter da Folha :

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito boas tuas crönicas!!!

Magno Urbano