terça-feira, 1 de outubro de 2013

NEW BEDFORD HIGHWAY KILLER

Todos as noites, o velho cowboy entra na velha caminhonete e ruma para a Rodovia da Morte, a New Bedford Highway Killer, estacionando na margem do km onde o corpo de sua filha foi encontrado, dilacerado, dentro de um vestido azul sujo de barro e gramíneas, o pescoço mole. 

Uma caixa de cervejas debaixo do braço, uma pistola pendendo da mão, o cowboy adentra no campo com respiração regular. Ele se senta num velho troco de árvore. O mesmo de sempre. E deixa os faróis da caminhonete ligados atrás de si, faróis baixos que iluminam suas costas, seu chapéu, projetam sua sombra gigantesca e irregular campo adentro. 

O velho cowboy repete o mesmo ritual há nove anos. Como se se soubesse caçado, o assassino nunca retornou. Mas o cowboy tem sinceras esperanças, e bebe todas as cervejas com o cão armado e o dedo no gatilho. Às vezes venta forte. A vegetação se move e faz barulho. Algo estala.

Mas cowboy é, também, um pragmático: ele sabe que é mais fácil chover do que algo assomar de dentro do mato. Então chove, chove muito. O cowboy não se move. Não meneia a cabeça aprovando ou desaprovando nada. Seus olhos de tigre observando a dança da chuva, seus ouvidos atentos às gotículas que repercutem forte na aba do chapéu. 

Antes de amanhecer, o Cowboy entra na caminhonete e vai-se embora, bebendo o último gole da última cerveja quando estaciona na garagem de casa. Já não chove quando ele abre a porta do quarto. Sua mulher está na cama, mas não dormindo. E o vê tirando as botas e despencando como uma velha árvore do Estado de MassachusettsO cowboy dorme sonhando com o aceno e o sorriso da sua garota. Um longo tchal. Na última vez que a viu saindo de casa

Nenhum comentário: