No sonho, uma velha sem cabeça conduzia minha cabeça
debaixo do braço. Passeava pelas ruas de uma pequena cidade, e ninguém parecia
se assustar com a cena. A velha era popular. E falava com a minha boca,
segurando minha nuca com as duas mãos estendidas na direção do interlocutor.
Passava horas nas praças, nos comércios, nas feiras. No fim da tarde, eu estava
exausto de tanto conversar. Eu só queria dormir, mas ela me conduzia debaixo do
braço até uma igreja, onde eu era obrigado a rezar um terço de velhos rosários.
Só lá pelas dez da noite, íamos pra casa. No fundo do quintal, me obrigava a
vê-la banhando de cuia. Punha minha cabeça sobre um cepo de madeira e, despida,
após buscar água num recipiente feito de pneus de caminhão, passava as mãos sem
sabão nas suas partes flácidas. Ela se acariciava, e isso era horrendo. Ela me
fazia mencionar nossa viajem para Canindé, mencionava a promessa, e isso era
mais horrendo ainda. Depois, molhava meu rosto, assoando-me o nariz. Por volta
da meia-noite, íamos pra cama, onde me obrigava a mamar o conteúdo azedo dos
seus seios murchos. Finalmente, deitava-se, colocando minha cabeça sobre seu
pescoço, e sonhava que um homem sem cabeça conduzia sua cabeça debaixo do
braço. E se agoniava sem conseguir despertar.
Um comentário:
Gostei da velha...
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