sexta-feira, 18 de outubro de 2013

CABEÇA, CABEÇAS

No sonho, uma velha sem cabeça conduzia minha cabeça debaixo do braço. Passeava pelas ruas de uma pequena cidade, e ninguém parecia se assustar com a cena. A velha era popular. E falava com a minha boca, segurando minha nuca com as duas mãos estendidas na direção do interlocutor. Passava horas nas praças, nos comércios, nas feiras. No fim da tarde, eu estava exausto de tanto conversar. Eu só queria dormir, mas ela me conduzia debaixo do braço até uma igreja, onde eu era obrigado a rezar um terço de velhos rosários. Só lá pelas dez da noite, íamos pra casa. No fundo do quintal, me obrigava a vê-la banhando de cuia. Punha minha cabeça sobre um cepo de madeira e, despida, após buscar água num recipiente feito de pneus de caminhão, passava as mãos sem sabão nas suas partes flácidas. Ela se acariciava, e isso era horrendo. Ela me fazia mencionar nossa viajem para Canindé, mencionava a promessa, e isso era mais horrendo ainda. Depois, molhava meu rosto, assoando-me o nariz. Por volta da meia-noite, íamos pra cama, onde me obrigava a mamar o conteúdo azedo dos seus seios murchos. Finalmente, deitava-se, colocando minha cabeça sobre seu pescoço, e sonhava que um homem sem cabeça conduzia sua cabeça debaixo do braço. E se agoniava sem conseguir despertar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei da velha...