Ontem enterramos o pai do Oliveira. Eu, o filho, Jhonny e
mais três desconhecidos. Dos 98 anos do velho, quantos de sofrimento
existencial e terminal? No salão da Casa do Idoso, onde o corpo era velado, uma
idosa inquire o preto Oliveira: "Tu não tá chorando não? Se fosse meu pai,
eu tava chorando." Tocamos pro cemitério Bom Jesus. Talvez o menor cortejo
da história da humanidade. No cidade dos mortos, sinto-me bem. Coveiros a
postos, buraco aberto, pousamos o caixão na borda do abismo. Os profissionais
da morte perguntam se esperamos mais alguém. Não. Only us. A urna desce. E
jogamos, cada um, uma mão cheia de terra na cara do velho. As pás fazem o
resto. O baque do barro contra o caixão preocupa e alivia. Os coveiros são
céleres, porque há mais defuntos prestes a chegar. Mortos dão trabalho, penso.
Mas vivos dão mais trabalho ainda, repenso, ao ver o Pastor Porto andando entre
jazigos. Muito alinhado, grudado ao celular, parece o Geraldo Alckmin.
Assombração. Vamos embora. No Caminho, Oliveira pergunta ao colega de trabalho
onde ele tinha arrumado aquelas mangas deliciosas. "No cemitério", responde
o outro, sorrindo. Pondero: antes uma manga adubada com defuntos do que com fezes. Enfim,
Bar Gil. Cerveja gelada que desce refrescando. Brindamos e sorrimos ao imaginar
que o último coveiro do mundo morrerá e não terá nenhum coveiro para
enterrá-lo. Silêncio que segue. Pessoas indo e vindo no crepúsculo. E quando Oliveira me dá um tapinha nas costas, agradecendo a ida ao cemitério, penso como é bom estar vivo.
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