O melhor da chuva é a possibilidade de banhar no chuveiro do
quintal, se a sua casa, como a minha, tiver um amplo quintal e um chuveiro
fixado nele. Então a manha é liga-lo não tão forte, postar-se embaixo e, se
estiver chuviscando como chuvisca agora, olhar pra cima, pro céu de chumbo, e
perceber que a Máquina do Mundo gira alheia aos nossos interesses. Deixar o
jato d'água atritar contra um olho, contra um ombro, contra a nuca. Ensaboar-se
vendo cachos de mangas verdes balançando noutro quintal e sorrir de um
Bem-te-vi boca de burro que queda ensopado sobre um fio de energia elétrica.
Enxaguar-se nesta fronteira do rural com o urbano. E mijar forte, o pênis livre
das mãos e da preocupação da cueca. Talvez masturbar-se antes de calçar as
Havaianas. Mas certamente enxugar-se filosofando: é impossível encher a piscina
do Bob Esponja; o chuvisco refresca sem inundar; Havaianas molhadas gemem como velhas
portas.
Um comentário:
Bem-ti-vi boca de burro? Nunca tinha ouvido... A única boca de burro que conheci foi a minha mesmo. Fiz uma musiquinha pra "caçar conversa" com meu irmãozinho de 8 anos. Ele irado, disse que eu era boca de burro (ou seja, só falava besteira). Gostei da perspicácia dele...
Postar um comentário