Enquanto meu velho fumava seus Mustangs sentado numa cadeira
de macarrão, o pequeno homem melado de tinta se equilibrava na escada e
avançava com o pincel: “Bar”, “Bar do”, “Bar do Sil”. E eu estava tão entretido sentado no chão de areia branca e observando os dois adultos que quase não percebia três ladrões fugindo com dois
bons gados de corte. Mas rápido acionei meus capatazes, que rápido mataram os
ladrões e rápido retornam com meus nelores – um azul e outro amarelo. Quando
enfim levantei a cabeça – entretido que já estava com a insegurança que rondava
meu rebanho –, pude perceber que o pintor finalizava o seu trabalho. Ele então
desceu da escada, e postou-se ao lado do meu pai, visivelmente satisfeito com a
obra. Adiante e acima da fumaça cinza que o Seu Chico jogava no ar, surgiu para
mim – vermelho sangue, gordo, estilizado – o nome “Bar do Silêncio”. Foi
quando, junto com o vento fresco das oito da manhã, a didática da infância
roçou na minha cara o que só muitos anos depois um professor traduziria pelos
nomes de “contradição”, “oposição”, “paradoxo”.
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