quarta-feira, 29 de maio de 2013

CONTRADIÇÃO, OPOSIÇÃO, PARADOXO

Enquanto meu velho fumava seus Mustangs sentado numa cadeira de macarrão, o pequeno homem melado de tinta se equilibrava na escada e avançava com o pincel: “Bar”, “Bar do”, “Bar do Sil”. E eu estava tão entretido  sentado no chão de areia branca e observando os dois adultos que quase não percebia três ladrões fugindo com dois bons gados de corte. Mas rápido acionei meus capatazes, que rápido mataram os ladrões e rápido retornam com meus nelores – um azul e outro amarelo. Quando enfim levantei a cabeça – entretido que já estava com a insegurança que rondava meu rebanho –, pude perceber que o pintor finalizava o seu trabalho. Ele então desceu da escada, e postou-se ao lado do meu pai, visivelmente satisfeito com a obra. Adiante e acima da fumaça cinza que o Seu Chico jogava no ar, surgiu para mim – vermelho sangue, gordo, estilizado – o nome “Bar do Silêncio”. Foi quando, junto com o vento fresco das oito da manhã, a didática da infância roçou na minha cara o que só muitos anos depois um professor traduziria pelos nomes de “contradição”, “oposição”, “paradoxo”.

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