terça-feira, 20 de novembro de 2012

GUERRA AO ZUMBIRISMO


Impressionante como a série de TV ‘The Walking Dead’ deixa claro o apego do americano yankee por armas de fogo. É quase uma apologia. Por um motivo que não se explica (estou no início da segunda temporada) as forças de segurança (exército, marinha, FBI, etc.) não existem mais, ou pelo menos não são mostradas em ação, numa época em que o país está infestado por zumbis assassinos. É a desculpa ideal para próprio americano defender-se. A entrada triunfante da arma de fogo de uso civil. O marine recolhe seu M16 e sai de cena para o destemido texano com um 38 na cintura. ‘Às armas, cidadãos’, ainda que o convite seja desnecessário – o povo americano é o mais armado do mundo. Atualmente, até rifles róseos são vendidos para meninas, e na série, em determinado momento, é consenso entre os personagens que um garotinho deve aprender a manejar uma pistola.

Na segundo ou terceiro episódio da segunda temporada, é sintomático o treinamento de tiro que um dos protagonistas, o policial Shanne, ministra para uma sobrevivente numa floresta: enquanto um pequeno tronco de madeira balança pendurado numa corda fixada numa árvore, como se fosse um zumbi se movimentando de um lado para outro, ele a provoca com palavras típicas de um treinamento militar: se ela quer aprender a atirar – e a matar –, é preciso se desligar, esquecer a culpa, o medo, a irritação, tudo. Do contrário, como ele próprio vaticina, continuará atirando ‘como uma garota’.

A apologia funciona muito bem porque os inimigos são mortos-vivos impiedosos. É politicamente correto atirar num zumbi, ‘matar um morto’. Mas em sonhos, o telespectador branquelo – principalmente o que traz uma SS tatuada no braço –, se cercado por dois ‘walkers’, certamente não hesitaria em descarregar a sua Colt .40 no crioulão que traja uma camisa fedida e rasgada do Troy Davis. E é claro que a eleitora do Obama, no caso de um apocalipse zumbi, desejaria que a sua vizinha republicana fosse infectada o quanto antes. Porque, excitada, ela já treina disparos imaginários no quintal de casa. Utilizando uma espingarda calibre 12 e tendo como alvo um cartaz do Mitt Romney.


(P.S.: Curiosamente, o protagonista da série é um xerife que andou à beira da morte após ser baleado logo no primeiro episódio.)

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