Quando um estranho, sem te ofender propriamente, te ofende profundamente.
Não puxei assunto, estava apenas esperanto a hora de conversar com a possível testemunha. Estava na repartição pública também a trabalho, simulando com toda sinceridade a simpatia que tenho medo de não desvelar. Mas ela também estava lá, dissimulada, simulada, encostada na parede. Há quanto tempo me olhava? Ela atirou à traição:
- Mas tu tá diferente.
Uma senhora de voz doce, uma senhora magra que fingia simpatia melhor do que eu.
- Como?
- Tu era diferente quando chegou aqui, bem magrinho, bem bonitinho.
Dois tiros á queima roupa. Deus, senti minha cara esquentar.
- Isso foi em 2009. Tem seis anos. O tempo passa e a gente muda.
- E como eu não mudei?
Tentei uma ironia:
- É porque a senhora é imortal. Eu não.
Não funcionou. E vi minhas palavras caindo no chão, aos seus pés:
Como também a vi balançando a cabeça. Balançando negativamente a cabeça e me encarando com compaixão e desprezo:
- Não, menino.
Ela abusava. Me chamava de velho, de menino, do que queria.
Eu deveria estancar o riso forçado e dizer que sequer a conhecia.
Mas ela ainda iria falar que eu estava gordo e me forçar a perguntar: "Estou mesmo feio assim?"
Quando, felizmente, fui chamado pra conversar com o médico que socorrera o homem baleado, fui deslocado.
Fiz as perguntas sem saber direito o que estava fazendo. Repeti alguma coisa. Esqueci de algo. Só lembrava dela. Simpática e maquiavélica, continuava lá, me esperando recepção.
Quando saí, tentei ser mais rápido, embora não tenha sido eu quem dissesse isso, mas alguém bastante humilhado:
- Obrigado por estragar meu dia.
Ela esperou eu ganhar a rua, pra quase grita:
- Não! Fique alegre, por favor!
Quase nove horas da noite, ainda penso nela.
Um comentário:
Legal! A mulher era nova ou velha? Feia ou bonita?
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