segunda-feira, 11 de junho de 2012

AS HORAS

Vou passando e ele me chama. 

"Ei, seu polícia , faz favor". 

Encosto na grade do corredor em frente à cela número um. 

"Diz", digo. 

"Rapaz, tem como trazer aqui pra mim o relógio que eu tava usando e que quebrou a pulseira quando os home me pegaram?"

Jogo fora a bagana do cigarro que tava fumando. Depois espirro. 

"Cara, já entreguei na casa da tua mãe. O relógio, tua bolsa, tudo que tava nos teus bolsos. Aqui na delegacia a gente não guarda nenhum pertence de preso". 

"Moço", diz um detento no fundo da cela, enquanto abre um bandeco,  "esse home tá pra botar a gente doido perguntando as hora. Toda hora ele pergunta que hora são". 

"Mas isso é normal quando o cara entra aqui", diz um segundo preso, "esse negócio de ficar querendo saber o horário".

"Acho que é a noia da primeira vez", diz o primeiro preso, mordendo uma asa de frango. 

"E pra quê tu quer saber de hora, rapaz", digo, rindo. "Relaxa. Não vai adiantar nada saber de hora. Quando tiver claro é porque é de dia, quando tiver escuro é porque é de noite."

Falo isso e os demais presos  riem bastante. Riem tanto que farelos de arroz e farofa pulam de suas bocas. 

Eram exatamente sete horas da noite, a hora da janta.

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