Vou passando e ele me chama.
"Ei, seu polícia , faz favor".
Encosto na grade do
corredor em frente à cela número um.
"Diz", digo.
"Rapaz, tem como trazer
aqui pra mim o relógio que eu tava usando e que quebrou a pulseira
quando os home me pegaram?"
Jogo fora a bagana do cigarro que
tava fumando. Depois espirro.
"Cara, já entreguei na casa da tua mãe. O
relógio, tua bolsa, tudo que tava nos teus bolsos. Aqui na delegacia a
gente não guarda nenhum pertence de preso".
"Moço", diz um detento no fundo
da cela, enquanto abre um bandeco, "esse home tá pra botar a gente
doido perguntando as hora. Toda hora ele pergunta que hora são".
"Mas isso
é normal quando o cara entra aqui", diz um segundo preso, "esse negócio
de ficar querendo saber o horário".
"Acho que é a noia da primeira
vez", diz o primeiro preso, mordendo uma asa de frango.
"E pra quê tu quer
saber de hora, rapaz", digo, rindo. "Relaxa. Não vai adiantar nada saber
de hora. Quando tiver claro é porque é de dia, quando tiver escuro é
porque é de noite."
Falo isso e os demais presos riem bastante. Riem
tanto que farelos de arroz e farofa pulam de suas bocas.
Eram exatamente
sete horas da noite, a hora da janta.
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