Então eu pulava uma barreira. A primeira dos 100
Metros com Barreira. Eu pulava alto, músculos e nervos no ápice, em
câmera
lenta. Estava bem fisicamente, estava preparado, confiante, adestrado
para correr e
saltar. Eu pulava a barreira e sentia o ar do Estádio Olímpico de
Londres
penetrar nas minhas narinas. Eu olhava pra baixo e via o meu tênis Nike
branco
pairando em cima da barreira. Era tudo tão nítido que eu podia ver até
uma fila
indiana de formigas trabalhando na divisão do gramado com a pista de
atletismo.
Eu ouvia a torcida brasileira gritando Braa-sil, Braa-sil, Braa-sil. Eu
via
bandeiras verdes e amarelas tremulando, o batuque de tambores, a dança
frenética das mulatas na arquibancada. Eu não havia usado Neosoro nem
dilatador
nasal. Eu não lembrei de usá-los. Talvez por isso, o barulho estranho de
tratores trabalhando na minha
garganta. Talvez por isso a inquietação e os espasmos. O meu pé se
enroscando primeiro na barra de ferro da cama,
pra depois ficar preso na barra de ferro do sonho e eu cair feio, muito
feio no
chão do quanto, ao passo que minha cabeça – uma pesada melancia – se
espatifava em inúmeros pedaços na raia 6 do Estádio Olímpico de Londres.
4 comentários:
Luís e o sonho olímpico brasileiro.
Sonhar e acordar roncando...
Neosoro... Não consigo viver sem... XD Seu texto me lembra um aforismo de "Humano, Demasiado Humano", em que Nietzsche afirma que os sonhos são produtos de estímulos nervosos reais.
Adorei o final! Parabéns, cara! Teu blog é excelente.
Também não vivo sem Neosoro, brother.
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