A notícia da mudança da data do Salão do Livro de Imperatriz me quebrou as pernas. Com a antecipação do evento (de 25 para 17 de outubro), pegarei no máximo os dois primeiros dias, sábado e domingo, porque na segunda já estarei longe daqui, dali, dacolá, trabalhando. Fiquei tão abalado com tal notícia que sonhei, noite passada, com o dito evento literário. Sonho maneiro, louco, ótimo. Quando acordei, fiz questão de passar um pincelzinho verde-cana nas partes que ainda estavam borbulhando na minha memória. Alguns pontos são dignos de nota.
*No sonho, o Salimp não acontecia (como está previsto para acontecer) no Centro de Convenções. A bagaça parecia rolar na Ufma. Mas não, não era naquela Ufma que fica ao lado da Câmara dos Vereadores. Era outra essa mesma universidade: multicolorida, térrea e subtérrea, labiríntica, insular e de arquitera gaudiniana.
*Zeca Tocantins aparecia cantando dentro de uma canoa (ou antes berrando): "Canoooa! Canoooa!" Utilizando o próprio violão, ele remava, remava, remava mas a embarcação não saía de baixo de um cajueiro onde parecia estar ancorada.
*Um amigo que eu não via há muito tempo, e que um dia me disse que é mais fácil soar piegas quando se escreve poesia, por ironia do sonho aparecia no hall do Salimp com uma mostra de poemas. Ele estava preocupado diante dos "rebentos" ampliados e fixados nas paredes. Caneta em punho, percorria a mostra fazendo correções nos poemas: ora riscava determinados versos de uns, ora acrescentava palavras em outros. Segundo ele, os organizadores da mostra transcreveram vários de seus poemas de forma equivocada. "Talvez por isso", afirmou, "eles estejam soando tão piegas".
*Na porta do auditório em que o jornalista Caco Barcelos ministraria uma palestra, estudantes ansiosas disputavam um ingresso. Quando uma delas era contemplada com a entrada, lia para si mesma, entre incrédula e desejosa, a inscrição em itálico no verso do ingresso, abaixo da foto do repórter: "Ingresso pessoal e intransferível. Preencha corretamente os campos referentes a nome e CPF. Ao final da palestra, sessão de beijos de língua e talvez uma orgia com o autor de Abusado".
*Em outro auditório, outras estudantes disputavam com unhas e dentes - e peitos e bundas - o título de Blogueira Mais Gostosa de Imperatriz. Eleição difícil em que o meu voto foi decisivo.
*Num cantinho menos concorrido, Ricardo Ramos ouvia o cotidiano das pessoas e ao final escrevia um Circuito Fechado para cada uma delas.
*Totalmente vestido de preto, o poeta Nauro Machado declamava os oitocentos sonetos do livro Nau de Urano e Frederico Machado, seu filho, projetava um curta sobre o pai (Infernos) na falange do dedo mindinho dos espectadores.
*Na Arena Subtérrea, outro poeta, Ademir Assunção, munido de rock’n roll e poesia, apresentava a prosódia inusitada da sua Rebelião na Zona Fantasma.
*Escolhido na hora pelos imortais da AIL, o blogueiro Carlos Hermes era o responsável por escrever um conto cujo tema era "51 motivos para a caravana da cidade de Balsas permanecer no Salão do Livro de Imperatriz". Como sugere o tema, a caravana de Balsas estava partindo antes do término do evento. Munido de caneta e caixas de papelão, Carlos Hermes suou mas conseguiu tecer uma trama para garantir a permanência dos balsenses no Salimp. Meses depois, conta o sonho, ele foi agraciado com o título de cidadão balsense e a chave da cidade. Diz também o sonho que em seguida ele abandonou a família em Imperatriz e casou-se com uma gaúcha filha de um grande produtor de soja da região.
*No final do evento, a paisagem era algo entre uma cidade de filme de faroeste e restos de uma festa regada a álcool e gastronomia em excesso, como A Comilança do Marco Ferreri. Folhas ao sabor do vento. Sobras de comida e livros pelo chão. Balões de festa. Poemas escritos em notas de cem e dois reais. Um boneco despejando baldes de água fria na cara de um ventríloquo bêbado. Músicas lentas e tristes tocando num radinho de pilha abandonado num canto. Poetas mortos. Palestrantes mortos. Romancistas mortos. E eu andando no meio de tudo isso. Eu e mais ninguém. Até que, ao abrir determinada porta, me vi deitado em cima de um amontoado de livros usados. Cheguei mais perto de mim, sem medo. Pensei em acordar-me, dizer "vamos, você precisa trabalhar", mas desisti. Fui pro outro canto, acomodei-me sobre outra pilha de livros, e, antes de finalmente acordar, dormi mais um pouquinho.
11 comentários:
kkkkkkkkkkkkkkkkkk cara, Vanessa tá perguntando se não poderia ter outro fim pra minha participação no teu sonho.
Muito bacana, é muita imaginação e habilidade com as palavras...parabéns camarada!
Rapaz, antes de publicar eu fiquei até imaginando a reação da Vanessa ao ler isso rsrs Mas o quê que os sonhos não fazem né bicho!
Transformam até Carlos Hermes em Príncipe Encantado! Hahaha Valeu!
Ola luiz. parabens cara, por v ser um jovem aplicado que sonha com feira de livros. nossa isso é ótimo, saber que temos jovens como v. verdade.
vou seguir seu blog.
abraço
luiz seu xara...
visite o nosso tbm ok ?
Valeu, xará. Vou fazer uma visita sim. Abração.
Psicodélico como sempre!
Muito louco mermão!
Até o Salimp!
Ixi Luís, me diga aí o que vc tomou, tô precisando sonhar tbm. Abraços!
Tomei "Juizo", aquela cerveja que tão vendendo pelo Orkut...
Só a Vanessa não gostou.
kkkkkkkkkkkkkkkk.
Muito louco esse sonho.
Abraço.
Eis que as influências Borginianas afloram nos textos hein meu nobre amigo Luis. Ler este, me remete aos bons e velhos tempos pre-uemianos em que me perdia durante as tardes naquilo que chamam de Biblioteca Publica local, entre as paginas das Obras Completas de um velho velho conhecido nosso dos pampas.
Abraçao!
Luis tu é muito filho de uma mae.. hahahahaha adoro teus textos..acredita que tambem fiquei pensando: a vanessa nao vai gostar do fim do Carlos Hermes"...
Mulheres...
Viagem!!!!!
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